FRONTISPÍCIO DAS ARTES

A arte começa onde a imitação acaba. Oscar Wilde

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Tribuna de Artistas:Ivone Marques Dias

Qual é o papel da arte na vida das pessoas? Pode o mundo sobreviver sem a arte? Serão os artistas tão importantes na sociedade quanto os médicos, os engenheiros, os advogados, os professores e outros profissionais? Estas questões colocam em pauta a vida e a manutenção de um tipo de profissional que apenas em segundo plano os governos ousam pensar. Mas, será que os governos expressam o que é e o que não é importante para nós? Acho que não.

Em primeiro lugar, é bom que fique claro: todos os grupos humanos tem um padrão estético que lhes é peculiar. Vejam os índios brasileiros, que importância dão ao grafismo no corpo, nas cerâmicas e nas armas e instrumentos musicais. Cada traço simboliza uma coisa, cada desenho classifica um objeto. Assim, entre os homens de um determinado tempo, é possível classificar sua produção artística e perceber o grau de sensibilidade do indivíduo em relação ao curso de sua história. Deixando de lado as produções teatrais que tem o fórum do teatro, do cinema e da televisão, eu fico me indagando quanto tempo ainda vai demorar para que as pessoas se desacomodem e aprendam a viver com o que lhes é belo, com o que lhes inquieta, com o que lhes é simbólico. Por vezes, como colecionadora, fico frente aos meus quadros tentando andar pelos caminhos do Nerival. São lindos esses caminhos. Tão lindos que me remetem à minha infância ingênua e perplexa frente à natureza. Assim também acontece quando passo os olhos pelo Chaer, pelo Bittencourt, pelo Ismael, pela Olga Nóbrega, pelo Soliano. Um expressa a fé, outro a lágrima, outro, exalta a pátria, outro, o amor, e por aí vai. Eu não saberia viver numa casa de paredes nuas. E, tudo o que ponho nas paredes, conta dos autores, mas também de mim, pois fui tocada por eles dentro do coração. Seus trabalhos me levaram, na fúria criadora, a andar por diferentes mundos. Puseram-me a refletir sobre as dimensões do sentimento e mostraram-me os caminhos da sensibilidade para educar meus filhos. Grande gente essa categoria dos artistas plásticos. Eu os reverencio por falarem uma linguagem que é mais acessível ao coração que aos ouvidos, no entanto, eles ainda não tem o incentivo que precisam para continuar. Conheço pintores e escultores que tropeçam na dificuldade financeira para comprar a matéria prima de sua arte. E eles só precisam de visibilidade, mas estão sujeitos ao descaso de não ter onde se reunir, onde ministrar cursos, onde expor seu produto artístico. Muito mal. Uma terra que não cultiva seus valores artísticos, está fadada à barbárie, à insensibilidade de seus cidadãos, à crueldade nas relações humanas.

Precisamos dos artistas. A alma precisa viver o belo e o inquietador. E onde está o nosso Centro Cultural?

Ivone Marques Dias, doutora em História pela USP, colabora
toda quinta-feira com esta coluna.

Nenhum comentário:

Postar um comentário