imagem de Djanira pintando em sua casa no Rio de Janeiro - 1962
Djanira (1914 a 1979)
A artista plástica Djanira é sem duvida a que mais teve sucesso no panorama nacional, na pesquisa foi a artista que eu mais encontrei material biográfico, com muitas fotos das obras e da própria artista, aí velho a dificuldade de escolher um material inédito, foi aí que encontrei uma entrevista feita nos anos de 1960, e que colocarei no livro logo a seguir.
Em 26 de Setembro de 2011, quando limpava e catalogava algumas revistas antigas encontrei uma entrevista que a artista plástica Djanira deu para a revista O cruzeiro e publicada em 21 de julho de 1962, tive que redigir novamente e deixar a entrevista mais contemporânea, com base no texto de Quirino Campofiorito e fotos de Antônio Rudge e Jean Solari, são fotos raras e inéditas da artista em seu ateliê no bairro de Santa Teresa na cidade do Rio de Janeiro onde viveu por muitos anos e que traz uma informação que eu até então não sabia, uma foto de Djanira em seu refúgio, uma casinha na cidade de Parati, no litoral Fluminense. As fotos mostram a artista em sua casa a acariciar um cachorro deitado ao chão, pois a artista gostava muito de animais, revela um retrato intimo da artista, deitada em uma rede, cercada de imagens sacras, de suas obras de arte, de livros esculturas, numa casa confortável, um ateliê, classificado pelo repórter, como Ateliê Erudito. São oito páginas de entrevista com a artista, com bastante fotos.
O título da matéria é “NO MUNDO MARAVILHOSO DE DJANIRA.”
Em 26 de Setembro de 2011, quando limpava e catalogava algumas revistas antigas encontrei uma entrevista que a artista plástica Djanira deu para a revista O cruzeiro e publicada em 21 de julho de 1962, tive que redigir novamente e deixar a entrevista mais contemporânea, com base no texto de Quirino Campofiorito e fotos de Antônio Rudge e Jean Solari, são fotos raras e inéditas da artista em seu ateliê no bairro de Santa Teresa na cidade do Rio de Janeiro onde viveu por muitos anos e que traz uma informação que eu até então não sabia, uma foto de Djanira em seu refúgio, uma casinha na cidade de Parati, no litoral Fluminense. As fotos mostram a artista em sua casa a acariciar um cachorro deitado ao chão, pois a artista gostava muito de animais, revela um retrato intimo da artista, deitada em uma rede, cercada de imagens sacras, de suas obras de arte, de livros esculturas, numa casa confortável, um ateliê, classificado pelo repórter, como Ateliê Erudito. São oito páginas de entrevista com a artista, com bastante fotos.
O título da matéria é “NO MUNDO MARAVILHOSO DE DJANIRA.”
“PROCURO VALERME DOS VALORES ETERNOS, OS MAIS POSITIVOS QUE O SER HUMANO TRAZ COM SIGO, A ALEGRIA, O PRURO PRAZER DE VER E APRECIAR O QUE A ENERGIA E A INTELIGÊNCIA PODEM CRIAR PARA O BENEFÍCIO GERAL. JAMAIS PODEREI ENCONTRAR BELEZA NA CARICATURA DO ÓDIO OU NUM FALSO AMOR.” Quem poderia falar assim, senão Djanira, uma criatura dotada de ternura sem limite para todas as coisas do mundo, que seriam todas boas se lhes assistisse sempre aquela mesma ternura? Quem poderia pensar assim, desejar assim, conceber um mundo assim, propor uma existência assim, e assim tornasse, ela própria, exemplo humano?
Aquelas palavras de Djanira, nós ouvimos e todo o mundo pode ouvir se escutar o que lhe diz a pintora, seja pelo idioma, de sua arte, que fica, misteriosamente gravada em suas telas ou em seus desenhos; seja pelo seu falar singelo, desprevenido, impulsivo até de tão singelo e desprevenido, voz cadenciada, como se deixasse passar pala trama mais fina da sensibilidade, as palavras vagarosamente; é o seu jeito, palavra por palavra, palavras que trazem, como as suas pinturas e os seus desenhos, as cores ternas e harmoniosas, as formas despojadas de detalhes supérfluos, as linhas vibrando ao registro de emoções incontidas e fluentes. Fazer uma visita ao ateliê de Djanira é como empreender uma aventura até um mundo maravilhoso. Não há, em realidade, limitações para a satisfação do espírito naquele ambiente para que seja apenas um recanto e deixe de ser um mundo mesmo. Há ali a amplitude real de um mundo de humanidade e de beleza, que se condensa naquele espaço e se desdobra em cada minuto que ali permanecemos, em espaços maiores, cada vez maiores, até que nossas satisfações, de encantamento em encantamento, vão sendo infinitamente correspondidas em cada tela, e são muitas telas e muitos espaços do mundo nelas contidos; em cada desenho que a artista destaca de uma pasta repleta de registros instantâneos, que são igualmente numerosos pedaços deste mundo grande que Djanira vive, com ele se move, um mundo de ternura permanente, em que as criaturas humanas e as coisas constituem finalidade à existência, desdobram em tempos e espaços permanentes, eternos, a vida que convida à vida. Sobre a pintura a matéria falava que giravam em torno de temas Humanos, Cenas populares e folclore são os motivos que Djanira procura em constantes peregrinações pelo Brasil.
Aquelas palavras de Djanira, nós ouvimos e todo o mundo pode ouvir se escutar o que lhe diz a pintora, seja pelo idioma, de sua arte, que fica, misteriosamente gravada em suas telas ou em seus desenhos; seja pelo seu falar singelo, desprevenido, impulsivo até de tão singelo e desprevenido, voz cadenciada, como se deixasse passar pala trama mais fina da sensibilidade, as palavras vagarosamente; é o seu jeito, palavra por palavra, palavras que trazem, como as suas pinturas e os seus desenhos, as cores ternas e harmoniosas, as formas despojadas de detalhes supérfluos, as linhas vibrando ao registro de emoções incontidas e fluentes. Fazer uma visita ao ateliê de Djanira é como empreender uma aventura até um mundo maravilhoso. Não há, em realidade, limitações para a satisfação do espírito naquele ambiente para que seja apenas um recanto e deixe de ser um mundo mesmo. Há ali a amplitude real de um mundo de humanidade e de beleza, que se condensa naquele espaço e se desdobra em cada minuto que ali permanecemos, em espaços maiores, cada vez maiores, até que nossas satisfações, de encantamento em encantamento, vão sendo infinitamente correspondidas em cada tela, e são muitas telas e muitos espaços do mundo nelas contidos; em cada desenho que a artista destaca de uma pasta repleta de registros instantâneos, que são igualmente numerosos pedaços deste mundo grande que Djanira vive, com ele se move, um mundo de ternura permanente, em que as criaturas humanas e as coisas constituem finalidade à existência, desdobram em tempos e espaços permanentes, eternos, a vida que convida à vida. Sobre a pintura a matéria falava que giravam em torno de temas Humanos, Cenas populares e folclore são os motivos que Djanira procura em constantes peregrinações pelo Brasil.
O mundo Maravilhoso de Djanira tem Dois pólos de atração: O ateliê erudito de Santa Teresa e a simplicidade rústica das velhas ruas coloniais de Parati.A Residência de Djanira é lá nos altos de Santa Teresa. Ali mesmo está o seu ateliê. Para chegar lá não basta o bondezinho elétrico que parece subir a montanha cabriteando e pinoteando sobre cada emenda de trilho a trilho. É necessário usar também uma condução funicular, que dá acesso final a um inacreditável pitoresco lugarejo.
Não será sem alguma razão que a artista plástica foi morar na montanha, e relembremos que Djanira começou para a arte quando morava em Santa Teresa, ou seja, foi reconhecida como a grande artista plástica que é. A montanha tem lá seus mistérios. É de uma remota lenda chinesa que a montanha possui uma vida interior importante para as seduções humanas. A lenda lhe destina evocações particularíssimas. A montanha será a própria personificação da humanidade, numa concepção cósmica e mística. A montanha é uma coisa viva em cujas veias corre a água que é o seu sangue, e que se transforma em nuvem, por transpiração. Foi sempre diante da natureza, que o pintor chinês, como aliás todos os orientais, se apegavam a julgamentos que envolvem o sentido poético e humano em suas obras. A criação artística não devia ser um modesto registro da sensibilidade individual, condensação apenas preocupações pessoais, ao contrário, havia de possuir uma condição universal dos sentimentos humanos. Tudo isso veio nos a lembrança enquanto éramos levados e elevados ao mundo de Djanira, no alto da montanha pitoresca que é Santa Teresa, montanha de mil casas que parecem apenas encostadas nas pedras e sustentadas pela vegetação.
Peças de mobiliário colonial, santos barrocos fazem moldura permanente que se movimenta Djanira, com sua vida de artista e de dona de casa, essa mulher de cabelos pretos e corridos, herança de suas raízes indígenas, como disse um jornalista, “essa mulher de ar espantado e coração puro”, Agora nas palavras de Jorge Amado. Os quadros que vemos são muitos. Todos para sua exposição em Madri e em seguida em outras capitais na Europa, que Alfredo Bonino promoverá.
A Obra de Djanira é uma janela aberta para o Brasil traduzindo com profundidade emocional em obras de arte, toda a identidade cultural do povo brasileiro.
O lado complicado dos pensamentos artísticos tão de gosto da critica de hoje em dia, e não menos preferidos pelos filósofos da estética, não pode figurar ao lado da obra de Djanira. Diante de suas telas serão impossíveis conjunturas esteticistas que lhe perturbem a espontaneidade de concepção e realização. Sua pintura não oferece oportunidade para isso. A sua aberta autenticidade e a exatidão de simplicidade e clareza de inspiração, sugerem idéias igualmente simples e claras na sua apreciação. Sim, porque Djanira não quer saber de “ismos”, mas apenas pintura, como a maioria dos artistas naïfs. A artista disse sertã vez que: “Tema e Forma são elementos indissolúveis e se equivalem em importância”. Ai esta uma definição que dada pela própria pintora à sua obra, que por isso só é o roteiro de quanto se queria indicar de permanente e apreciável em sua criação. Toda a divergência critica diante desta proposição tão dogmática de Djanira para as condições essenciais de sua obra, afasta o critico da presença de suas telas. “Os temas humanos, o folclore, as cenas populares, são aqueles que me seduzem”, o amor aos seres e as coisas, o caminho do sacrifício, do amor é beleza e fé constante na humanidade.
Djanira, com suas palavras singelas, mas sempre expressando um fundamento humano de sôfrega solidariedade, terá levado o critico Carlos Flexa Ribeiro a escrever que nossa pintora, “numa época de tantas e tão rutilantes tenções estéticas tem sabido se manter insubordinávelmente fiel a si mesma”. Djanira teve sempre teve o mundo como modelo e o tempo como mestre, desde seus primeiros instantes de pintora, quando logo se pode se desvencilhar das mãos que lhe apoiaram os passos incipientes na arte que viria a dominar como uma personalidade que sempre mais se afirma e se confirma. Errado será dizer: para ficar bem com a moda, a moda de certas expressões, que não existe nada de anedótico, episódico ou acidental nas composições de Djanira. Será desconhecer a medida da força criadora da pintora que se firma muito sobre aqueles fatores, para constituir e personalizar a significação plástica e as comunicações estéticas que se confirmam e se condensam não apenas para efeito de interpretação dos temas, mas para a permanência de rigorosa criação artística.
A pintura de Djanira é sobremodo comunicativa, agradável, atraente e repele qualquer hermetismo que pudesse lhe roubar a comunicação decidida e integral. Curioso verificar que em sua obra não encontramos atitudes propositadamente antiacadêmica e muito menos acadêmicas. Antiacadêmicas não, porque isso significa seguir o caminho de um outro academismo; acadêmicas menos ainda, porque Djanira, não olha apenas modelos, mas sente e sofre dramas humanos. Contra as duas atitudes formalistas, ela permanece voltada para si mesma, procurando ver o mundo pela sinceridade dos sentimentos que espelham a vida, e não se perdem fora do mundo. Sua técnica prescinde dos recursos exorbitantes de modelado em claro e escuro que se destinam a imitar o relevo, porém falseiam os valores essenciais pictóricos que prescidem de uma pseudoprofundidade de espaço sobre o plano.
Os detalhes, mesmo os mais anedóticos, se traduzem plasticamente por uma verídica e direta, que não pensa em mistificar realidades táteis, mas sim sugerir sensações ópticas que, através de recursos rigorosamente significativos pictoricamente, vão dramatizar melhor a realidade emotiva. Não procura também Djanira se valer de uma enfática retórica modernista, em que problemas de técnica deverão se desincumbir da expressão integral do quadro, por afetação dos recursos da matéria pictórica e da improvisação pelo emprego exorbitante de materiais estranhos às conclusões que normalmente cabem no objetivo as pintura.
Seu interesse pela vida popular, por tudo que marca a existência na sua simplicidade de origem a têm levado a conhecer o Brasil até os recantos mais longínquos, variados e originais. Chegou mesmo a demorados contatos com indígenas de tribos que habitam regiões inóspitas. As primeiras andanças de Djanira no interior do país foram em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Depois Bahia e Maranhão, e, por fim os silvícolas de Goiás e Mato Grosso. Sua obra vem se fazendo cada vez mais o retrato do Brasil, de sua gente, de seus costumes mais autênticos. Em Parati, a velha e esquecida cidade colonial do litoral Fluminense, Djanira tem expandido a sua ternura pelas belas reminiscências que ali ainda se conservam não se sabe como.
A paisagem, os motivos urbanos das antigas vilas, as personagens que parecem viver um mundo que deixou de existir, os rituais afro brasileiros e indígenas, o camponês e o trabalhador das cidades, vão sendo, pela nossa brava pintora, traduzidos com profundidade emocional para obras de arte que já identificam um trabalho original na sua cultura brasileira. A Obra de Djanira é uma janela aberta para o Brasil e um largo gesto de ternura par tudo quanto viram os olhos da pintora e por tudo quanto palpitou o seu coração imensamente generoso e simples.
Não será sem alguma razão que a artista plástica foi morar na montanha, e relembremos que Djanira começou para a arte quando morava em Santa Teresa, ou seja, foi reconhecida como a grande artista plástica que é. A montanha tem lá seus mistérios. É de uma remota lenda chinesa que a montanha possui uma vida interior importante para as seduções humanas. A lenda lhe destina evocações particularíssimas. A montanha será a própria personificação da humanidade, numa concepção cósmica e mística. A montanha é uma coisa viva em cujas veias corre a água que é o seu sangue, e que se transforma em nuvem, por transpiração. Foi sempre diante da natureza, que o pintor chinês, como aliás todos os orientais, se apegavam a julgamentos que envolvem o sentido poético e humano em suas obras. A criação artística não devia ser um modesto registro da sensibilidade individual, condensação apenas preocupações pessoais, ao contrário, havia de possuir uma condição universal dos sentimentos humanos. Tudo isso veio nos a lembrança enquanto éramos levados e elevados ao mundo de Djanira, no alto da montanha pitoresca que é Santa Teresa, montanha de mil casas que parecem apenas encostadas nas pedras e sustentadas pela vegetação.
Peças de mobiliário colonial, santos barrocos fazem moldura permanente que se movimenta Djanira, com sua vida de artista e de dona de casa, essa mulher de cabelos pretos e corridos, herança de suas raízes indígenas, como disse um jornalista, “essa mulher de ar espantado e coração puro”, Agora nas palavras de Jorge Amado. Os quadros que vemos são muitos. Todos para sua exposição em Madri e em seguida em outras capitais na Europa, que Alfredo Bonino promoverá.
A Obra de Djanira é uma janela aberta para o Brasil traduzindo com profundidade emocional em obras de arte, toda a identidade cultural do povo brasileiro.
O lado complicado dos pensamentos artísticos tão de gosto da critica de hoje em dia, e não menos preferidos pelos filósofos da estética, não pode figurar ao lado da obra de Djanira. Diante de suas telas serão impossíveis conjunturas esteticistas que lhe perturbem a espontaneidade de concepção e realização. Sua pintura não oferece oportunidade para isso. A sua aberta autenticidade e a exatidão de simplicidade e clareza de inspiração, sugerem idéias igualmente simples e claras na sua apreciação. Sim, porque Djanira não quer saber de “ismos”, mas apenas pintura, como a maioria dos artistas naïfs. A artista disse sertã vez que: “Tema e Forma são elementos indissolúveis e se equivalem em importância”. Ai esta uma definição que dada pela própria pintora à sua obra, que por isso só é o roteiro de quanto se queria indicar de permanente e apreciável em sua criação. Toda a divergência critica diante desta proposição tão dogmática de Djanira para as condições essenciais de sua obra, afasta o critico da presença de suas telas. “Os temas humanos, o folclore, as cenas populares, são aqueles que me seduzem”, o amor aos seres e as coisas, o caminho do sacrifício, do amor é beleza e fé constante na humanidade.
Djanira, com suas palavras singelas, mas sempre expressando um fundamento humano de sôfrega solidariedade, terá levado o critico Carlos Flexa Ribeiro a escrever que nossa pintora, “numa época de tantas e tão rutilantes tenções estéticas tem sabido se manter insubordinávelmente fiel a si mesma”. Djanira teve sempre teve o mundo como modelo e o tempo como mestre, desde seus primeiros instantes de pintora, quando logo se pode se desvencilhar das mãos que lhe apoiaram os passos incipientes na arte que viria a dominar como uma personalidade que sempre mais se afirma e se confirma. Errado será dizer: para ficar bem com a moda, a moda de certas expressões, que não existe nada de anedótico, episódico ou acidental nas composições de Djanira. Será desconhecer a medida da força criadora da pintora que se firma muito sobre aqueles fatores, para constituir e personalizar a significação plástica e as comunicações estéticas que se confirmam e se condensam não apenas para efeito de interpretação dos temas, mas para a permanência de rigorosa criação artística.
A pintura de Djanira é sobremodo comunicativa, agradável, atraente e repele qualquer hermetismo que pudesse lhe roubar a comunicação decidida e integral. Curioso verificar que em sua obra não encontramos atitudes propositadamente antiacadêmica e muito menos acadêmicas. Antiacadêmicas não, porque isso significa seguir o caminho de um outro academismo; acadêmicas menos ainda, porque Djanira, não olha apenas modelos, mas sente e sofre dramas humanos. Contra as duas atitudes formalistas, ela permanece voltada para si mesma, procurando ver o mundo pela sinceridade dos sentimentos que espelham a vida, e não se perdem fora do mundo. Sua técnica prescinde dos recursos exorbitantes de modelado em claro e escuro que se destinam a imitar o relevo, porém falseiam os valores essenciais pictóricos que prescidem de uma pseudoprofundidade de espaço sobre o plano.
Os detalhes, mesmo os mais anedóticos, se traduzem plasticamente por uma verídica e direta, que não pensa em mistificar realidades táteis, mas sim sugerir sensações ópticas que, através de recursos rigorosamente significativos pictoricamente, vão dramatizar melhor a realidade emotiva. Não procura também Djanira se valer de uma enfática retórica modernista, em que problemas de técnica deverão se desincumbir da expressão integral do quadro, por afetação dos recursos da matéria pictórica e da improvisação pelo emprego exorbitante de materiais estranhos às conclusões que normalmente cabem no objetivo as pintura.
Seu interesse pela vida popular, por tudo que marca a existência na sua simplicidade de origem a têm levado a conhecer o Brasil até os recantos mais longínquos, variados e originais. Chegou mesmo a demorados contatos com indígenas de tribos que habitam regiões inóspitas. As primeiras andanças de Djanira no interior do país foram em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Depois Bahia e Maranhão, e, por fim os silvícolas de Goiás e Mato Grosso. Sua obra vem se fazendo cada vez mais o retrato do Brasil, de sua gente, de seus costumes mais autênticos. Em Parati, a velha e esquecida cidade colonial do litoral Fluminense, Djanira tem expandido a sua ternura pelas belas reminiscências que ali ainda se conservam não se sabe como.
A paisagem, os motivos urbanos das antigas vilas, as personagens que parecem viver um mundo que deixou de existir, os rituais afro brasileiros e indígenas, o camponês e o trabalhador das cidades, vão sendo, pela nossa brava pintora, traduzidos com profundidade emocional para obras de arte que já identificam um trabalho original na sua cultura brasileira. A Obra de Djanira é uma janela aberta para o Brasil e um largo gesto de ternura par tudo quanto viram os olhos da pintora e por tudo quanto palpitou o seu coração imensamente generoso e simples.
O Cruzeiro, 21-7-1962