Crítico, imaginativo, bom escritor e amante dos museus. Esses são alguns dos adjetivos ligados ao profissional que atua como curador de arte. Formado em áreas diversas, como história, literatura, filosofia ou comunicação, e especializado na área, o curador é responsável pela preparação, concepção e montagem de exposições.Seu papel é estabelecer relações entre as obras e fazer com que dialoguem com o público. “É como um técnico de futebol, que escolhe o time, pegando os melhores jogadores para cumprir sua função”, compara o curador do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, Luiz Camillo Osorio. Os jogadores, no caso, são as obras de um ou mais artistas.
Curador, substantivo masculino com origem na palavra latina curator, aquele que cuida de algo, um guardião. No mundo das artes, esta palavra designa muito além de um simples cuidador. Ele é uma figura-chave na criação do conceito, montagem e todo o resultado final de uma exposição, por exemplo. Mas você sabe o que é e qual é a real função de um curador?
O estudante Taffarel Bandeira é enfático: “Já ouvi muito esse nome em eventos como exposições de arte, mas não sei se ele é quem organiza, se é responsável pela manutenção do patrimônio, não sei o que ele faz ao certo”. Taffarel não é o único a integrar o time dos que não possuem total certeza quanto ao trabalho desta famosa figura de vernissages e mostras artísticas. Isadora Cabral, também estudante, conhece a função, mas mesmo assim tem dúvidas: “Sei que são responsáveis pela organização de exposições de arte. Não sei se é todo tipo de arte”, afirma.
Por outro lado, a arquiteta Orcina Fernandes conhece bem as funções de um curador. Ela, que já participou da organização de um festival alternativo de arte – Avalanche – que ocorreu em Vitória (ES) durante os dias 19, 20 e 21 de julho de 2013, explica um pouco o que representa essa figura: “Quando eu penso em curador eu penso em arte… então é alguém que agrupa e administra obras ou bens. Entendo que o trabalho do curador na prática seja isso: garimpar, selecionar e agrupar obras de arte e/ou bens com o fim de expor”.
Mas esse garimpador de obras teria uma formação específica? Como ele conseguiu chegar a este posto? O administrador Eduardo Bione acredita que, para chegar até esta função, o profissional precise ter um profundo conhecimento e apreço pelo campo artístico. “Eu imagino que ele seja um profissional da área das artes, ou até mesmo de história da arte. Alguém com bagagem para ocupar o lugar”, diz ele. E é justamente deste modo que se começa a formar a figura curatorial, através do acúmulo de conhecimento e pesquisas na área.
Foi assim com o Ph.D. em economia Moacir dos Anjos, que já ocupou o posto de curador da 29ª Bienal de São Paulo, foi co-curador da Bienal do Mercosul, coordenador curatorial do Itaú Cultural Artes Visuais (entre 2001 e 2003) e diretor geral do Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães – MAMAM no Recife. Tudo começou quando ele, que já trabalhava na Fundação Joaquim Nabuco, recebeu um convite para organizar exposições no final dos anos noventa.
“Com a ampliação das atividades da fundação nesse campo da arte contemporânea, eu fui convidado para assumir um cargo numa estrutura mais alargada e resolvi completar essa transição. Foi quando eu comecei a fazer trabalhos não só de pesquisa, mas também de organizar exposições, cursos, e nesse momento foi que me dei conta que eu estava fazendo curadoria. Não tive formação nem intenção de me tornar curador”, conta. E completa: “Eu me tornei curador como uma decorrência natural do meu trabalho de pesquisa e, ainda hoje, é como eu vejo um pouco a minha atividade. A curadoria como um dos desdobramentos possíveis da atividade de pesquisador”.
Para Moacir, o que mais interessa na arte é a capacidade de desafiar convenções e consensos. Consensos que, ainda segundo ele, usamos para organizar nossas vidas e tecer relações que nos ajudam a entender o que está ao nosso redor. “A arte tem essa potência de abrir fissuras nesses entendimentos muitas vezes enrijecidos”, explica o curador.
Questionado sobre a real importância do curador para a arte, ele responde: “Hoje em dia o curador está presente em tudo que envolve escolhas, seleções. Ele aproxima essas escolhas e, deste modo, as faz significar alguma coisa em um determinado momento. A curadoria está ligada também a essa ação, que articula e integra coisas dispersas no mundo, dando-as significados específicos”.
Ainda segundo ele, as escolhas são feitas de acordo com a agenda do próprio profissional. É através dela que surgem as questões e inquietações que levam à observação e elaboração de um planejamento para dispor visualmente e conceitualmente aquilo que ele deseja mostrar. “(O curador) é responsável pela forma como as obras são exibidas em um determinado espaço, se são exibidas próximas ou distantes uma das outras, se são bem ou mal iluminadas, se são exibidas com, sem ou nenhuma informação suplementar. Tudo isto é papel do curador”, explica Moacir.