Este conto sem dúvida é o meu preferido, é tão tingido de cor local e ao mesmo tempo fala de um tema universal, me emocionou, tanto que pretendo pintar um quadro desta história, é como se essa senhora fosse a minha mãe.
Enzo Ferrara
A Mãe
Como nos anos anteriores, levantou-se cedo, com indisfarçável alegria. Era mais um Dia das Mães...Pensou com saudade nos quadro filhos, todos casados e que tinham procurado seus rumos, distanciando-se dela.
Dobrou o velho colchão de capim, (mais pó do que capim) e bateu-lhe algumas vezes,
afofando-o. Depois esticou-o novamente e cobriu com lençóis remendados e a colchinha de retalhos.
- “Acho que o Raimundo, vai me dar um colchão novo”...
Após lavar o rosto , penteou os cabelos ralos e brancos e trançou-os, com o era hábito.
Preparou seu chá, que tomou molhando o pão velho.
Há muito que sentia vontade de tomar aquele chá com leite, mas, a minguada mesada que recebia do finado marido, não lhe permitia esse luxo... E seguiu pensando:
- “Quando o Arnaldo chegar, eu peço prá ele comprar... ele cai me comprar”...
Foi até a janela de seu quartinho nem sabia quantas vezes. Ajeitou o Xale todo furado e pensou ansiosa:
-“A rosa é capaz de me dar um xale novo”...
Cansada, sentou-se à beira da cama e olhou para os pés.
Como estavam gastas e rasgadas as suas alpargatas...
-“A Mariana vende na feira, acho que me trará uma alpargata nova”.
Passou a hora do almoço e a tarde encontrou-a debruçada tristemente à janela, mas, ainda tinha um reto de esperança...
Como nos anos anteriores, quando a noite desceu, fechou a janela sentindo a amarga decepção: - Os filhos não viriam mais.
Sem vontade de se alimentar, deitou-se silenciosamente, enquanto murmurava à si mesma, repetidas vezes:
-“Eles não puderam vir, coitadinhos...não puderam... não estou triste com eles... não estou triste com eles”...
Mas chorava sentidamente!
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