FRONTISPÍCIO DAS ARTES

A arte começa onde a imitação acaba. Oscar Wilde

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Artistas mogianos

Nos anos de 2000 e 2001 dirigi na Universidade Braz Cubas a parte cultural de dois grandes eventos, primeiro o Brasil-500 anos e, o segundo, o Congred, voltado à Educação. Para ambos,chamei um enorme número de artistas das mais variadas modalidades. Montamos salas dignas de visitas internacionais com arte sacra da região. Vieram artistas plásticos, escolas de balé, cantores das casas noturnas, houve teatro, enfim, toda uma parte cultural que completou a parte científica desses eventos.


Fora, havia tendas de lona para as apresentações musicais. No segundo evento, o senhor Jam pegou uma sala para fazer uma montagem. As outras salas foram pouco a pouco se enchendo de obras de arte e artesanato. No último dia da montagem, chegou um artista atrasado com duas pequenas telas debaixo do braço, mas não havia lugar para ele. Fui então à sala de Jam e pedi a ele um cantinho para os dois quadros. Ele negou-me o cantinho alegando que os quadros prejudicariam a "instalação". Não gostei de sua atitude egoísta, não retruquei, mesmo tendo autoridade de tirar-lhe aquela sala (autoridade que me foi concedida pelo saudoso Dr. Motta). Fui até o fundo do corredor onde o artista Ismael Mendonça montava sua exposição de fotografias, belíssimas, por sinal e, também de máquinas fotográficas antigas. Perguntei a ele se ele teria um espacinho para os dois quadros, e ele respondeu, amoroso. "Legal, põe as telas em frente àquela coluna, que elas vão dar um contraponto bacana para minha sala".

Passaram os anos, e o desmemoriado Jam passa a me procurar porque sabe que eu adoro os artistas de Mogi, coleciono obras, respeito sua produção. Tenta reunir alguns artistas, cedo minha casa e foi assim que percebi o motor de suas birras. Elas nada têm a ver com a Bienal. São produto de pura inveja das obras de Bellini, que estão aparecendo.

Quando quebrei o pé, Jam veio "chez moi" pedir ajuda financeira porque estava sem Internet, telefone etc. Vi as contas sem pagar. Elas já eram renegociação de dívida anterior. Ora, isso aconteceu justamente quando um diplomata palestino aqui refugiado, estava internado no SUS, "in extremis", e, mesmo sem andar eu conseguia dar apoio humano e financeiro à esposa, seu filho e meu filho, que se revezavam na cabeceira do senhor. Então expliquei ao Jam "que eu não podia desvestir um santo para vestir outro", isto é, meu dinheiro não dava para tudo. Qual não foi minha surpresa quando li no jornal de domingo, este sujeito usando, em negrito, minhas palavras cinicamente. Ora, Jam, vá trabalhar, pague suas contas e não me encha o saco. Aos outros artistas, dedico todo o meu amor.


Ivone Marques Dias
é doutora em História pela USP e colabora às quintas-feiras.

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