FRONTISPÍCIO DAS ARTES

A arte começa onde a imitação acaba. Oscar Wilde

segunda-feira, 16 de junho de 2014

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Uma vida transformada pela arte

O talento da artista plástica Linda Fuga mudou sua trajetória e a ousadia de suas obras espalha a beleza do ofício que escolheu

Publicada em 15/06/14
Erick Paiatto
Katia Brito
Da reportagem local
Desde muito cedo, a arte está na vida da pernambucana Linda Fuga, de nascimento Lindaura Maria, de 63 anos. A artista plástica sobreviveu às dificuldades da pequena Toritama, no agreste de Pernambuco, e, aos 11 anos, veio com a família para São Paulo. "Sou de uma família numerosa e, na minha época, as crianças não sobreviviam. Quase morri por três vezes", conta. Para a artista, que vive uma fase impressionista, a arte é uma missão. Linda diz que seus trabalhos expressam pureza, bondade e felicidade. "A arte é algo divino". Desde os anos 1980, ela participa de cursos, expõe suas obras e também já deu aulas de pintura em seu ateliê, atividade que pode ser retomada em breve. 
Em Mogi das Cruzes, há cerca de dez anos, ela participa ativamente das atividades culturais da cidade, que a inspira na criação de suas obras. Já pintou o Largo do Rosário, o Beco do Sapo, as Igrejas do Carmo e São Benedito, entre outros pontos, como o lago do condomínio Aruã, onde mora. Há quatro anos, é vice-presidente do grupo Frontispício, formado por artistas plásticos de Mogi. A entrada no grupo a ajudou a superar a morte do marido, o administrador de empresas Raul Fuga, vítima de um acidente de moto, com quem viveu por 40 anos. 
Participante de muitas exposições, recentemente, esteve, com outros artistas do Frontispício, em Jacareí, para a 1ª Bienal Ambiental de Artes do Vale do Paraíba, promovida pelo Instituto Cosmos e realizada no Museu de Antropologia do Vale do Paraíba. E não é só como artista que ela se realiza, sua felicidade também está na companhia da família, especialmente dos filhos, Alice, Aline e Danilo, e dos netos, Bianca, Vitor, Guilherme e o pequeno Raul, que recebeu o nome em homenagem ao avô falecido. 

Mogi News: O que a arte representa na sua vida? 
Linda Fuga: 
Sou de uma família numerosa da cidade de Toritama, em Pernambuco, e na minha época as crianças não sobreviviam. Minha mãe tinha um filho e o seguinte morria. Eu quase morri por três vezes. Como sou uma pessoa religiosa, com grande espiritualidade, acredito que realmente vim para fazer algo. Acho que vim com a missão de fazer arte e levá-la para as pessoas, como forma de torná-las melhores. Por meio da arte, expressamos sentimentos de pureza, bondade e felicidade, porque é algo divino. 
MN: Quando você começou a pintar? 
Linda: Ainda na escola. Tinha notas baixas em Português, mas, na hora de pintar, sempre ficava em primeiro lugar. Só queria ficar fazendo flores, cavalinhos e arte com argila. Aos 11 anos, vim para São Paulo com a minha família e foi uma luta. Era de uma família humilde e tinha de trabalhar para ajudar. Casei aos 19 anos e fui formar minha família, ter meus filhos. Nunca deixei de pintar, sempre fazia alguma coisa em casa: pintava tecido, cerâmica e me apaixonei pelas telas.


MN: Em que você se inspira? 
Linda: 
Nas telas, expresso meu sentimento, o que vivo no dia a dia. Vejo algo com que me identifico, que gostei muito, corro lá, passo para o papel e, no dia seguinte, passo para a tela. Tenho muitas inspirações também quando eu deito. Na medida do possível, pinto todos os dias. Obras contemporâneas, encaixadas no abstrato, faço até cinco por dia. Para a exposição em Jacareí, fiz o quadro "Vaidade", com pedras. Acredita que fiz esse quadro em meia hora? Fui deitar e pensei em algo que não me desse trabalho e trouxesse alegria. Sempre mentalizo algo que não vá me estressar. Aproveitei colares e anéis velhos e foi só diversão. Faziam fila para ver o quadro. 

MN: Como você define o seu estilo? 
Linda: 
Trabalho com diversas coisas: óleo sobre tela, acrílico sobre tela, com coisas da terra, sucata e materiais reaproveitáveis. Gosto muito de criar e inventar. Diria que sou eclética e pinto vários estilos. O artista tem fases e hoje estou apaixonada por pedras. Faço mandalas, espelhos... O que mais predomina no meu estilo, atualmente, é o impressionismo. Chego em casa, olho o lago (no condomínio Aruã) em frente e pinto, como Monet. 

MN: Como é a sua relação com Mogi? 
Linda: 
Estou em Mogi há dez anos. Antes, eu morava em São Paulo. Meu marido, Raul Fuga, era de uma família tradicional de São Miguel. Escolhi essa cidade para ficar o resto da vida. Amo Mogi. O que me encanta é a arte, a energia que a cidade tem com os casarões muito antigos, que já foram tombados, por exemplo. Quando ando, sinto essa vibração. Por onde passo, vejo algo que pode ser transformado em arte. Mogi é uma fonte de inspiração para mim. 

MN: E o grupo Frontispício? 
Linda: 
Quando procurei o Frontispício, estava recentemente viúva. Meu marido sofreu um acidente de moto. Fiquei mais de um ano sem saber nem onde pisava. A morte dele me desestruturou totalmente. Tínhamos acabado de comemorar 40 anos de casados. Depois de um ano, as pessoas começaram a falar que eu deveria voltar a pintar e tentar fazer algum evento. Foi quando procurei o grupo, que me recebeu com amor e carinho. O Zeti Muniz (presidente do grupo), sabendo da minha situação, sempre arrumava algo para eu fazer. Quando percebi, estava envolvida até o pescoço. Criamos uma amizade muito forte. Em três dias que conheci o Zeti, ele disse que eu seria a vice-presidente, percebendo o meu dinamismo e a minha firmeza. Estou com eles há quase cinco anos e o trabalho é muito bom. Temos a Adelaide Lawitschka, que pinta muito bem o acadêmico, e o Zeti, que também tem um trabalho que eu admiro. Tem outros integrantes que fazem trabalhos lindos, cada um no seu estilo. 

MN: Como foi a exposição em Jacareí? 
Linda:
 Foi muito boa. As pessoas nos receberam muito bem. O Instituto Cosmos, que realiza um trabalho voluntário voltado para causas ambientais, promoveu a exposição no museu da cidade. Eu fui convidada e levei o grupo. Preparei 15 obras com a temática ambiental. Em uma das obras, que chamei de "Energia dos Metais", trabalhei com ferro, ouro líquido e tinta acrílica. Outro que ficou muito bonito e todo mundo gostou foi o "Vaidade", em que aproveitei colares e anéis velhos. Também usei folhagens, corda e cortiça. Minhas obras foram muito apreciadas. 

MN: E é possível viver de arte? 
Linda:
 A gente só pode se dedicar à arte verdadeiramente quando está na fase que estou hoje. Já criei meus filhos, estou viúva. Porque é complicado. Temos muitos artistas em Mogi e acredito que a cultura não é um problema só da cidade, mas do País, que precisa dar oportunidade aos artistas para eles fazerem o que gostam. Quem vive da arte sofre muito, seja famoso ou não. Se eu fosse viver apenas da arte, seria bem difícil. 

MN: Você se sente realizada? 
Linda:
 Sim. Agradeço a Deus todos os dias pela minha vida. Sou milionária espiritualmente, não de bens materiais. Sou muito feliz. Deus me deu esse dom e, por várias vezes, pensei em abandoná-lo, por achar que não valia a pena e pela falta de apoio, mas aí as inspirações vêm.